top of page
Buscar

“Saiu por R$ 200?” — A Falácia da Moeda Única

“Saiu por R$ 200” — frase comum que escancara um erro recorrente: reduzir o comprometimento a uma cifra. Este artigo provoca uma reflexão sobre pertencimento, cultura organizacional e o verdadeiro valor das relações no ambiente de trabalho.


ree

"Fulano saiu por R$ 200 a mais.

"Quantas vezes você já ouviu — ou disse — essa frase?


Na superfície, parece apenas uma constatação sobre a realidade do mercado: a disputa por talentos, a concorrência salarial, o desafio constante de reter pessoas. Mas, na verdade, essa fala revela algo mais profundo — e mais preocupante: a ilusão de que o dinheiro é o único fator que determina o comprometimento de alguém.


E se não for?


A verdade é que ninguém abandona um ambiente onde se sente respeitado, valorizado, ouvido, desafiado e reconhecido... por apenas R$ 200. Esse valor — pequeno ou grande, dependendo da perspectiva — costuma ser apenas o estopim, não a causa. É o símbolo visível de um processo invisível: o acúmulo de frustrações, a sensação de estagnação, a perda de conexão com o propósito da empresa.


Quem sai por dinheiro, quase sempre, está saindo por falta de algo mais essencial. O dinheiro apenas viabiliza a mudança — mas não a motiva, de fato.


E se a lógica fosse outra? Em vez de salários e benefícios, imaginemos um mundo em que as relações no trabalho fossem pautadas por trocas mais humanas. Afinal, nas nossas relações mais significativas, não trocamos valores exatos — trocamos gestos, confiança, cuidado, disposição. Quem faz um favor espera ser retribuído não com algo equivalente em forma, mas em valor emocional. Não há planilha que meça isso, mas todos sabem quando esse tipo de troca acontece — e quando não acontece.


Talvez por isso, quem se sente genuinamente visto e escutado tolera com mais serenidade os altos e baixos. A moeda que mantém as pessoas é outra: é o pertencimento, o reconhecimento, o senso de contribuição. A satisfação de estar em um lugar onde sua presença faz diferença.


Muitos líderes ainda acreditam que comprometimento é cláusula de contrato. Mas o comprometimento não se cobra, se cultiva. Ele nasce das pequenas decisões do cotidiano: de como se acolhe uma dúvida, se reconhece um esforço, se divide uma responsabilidade. A cultura de uma empresa é construída nessas margens. E é aí, também, que se constrói (ou se rompe) o desejo de permanecer.


Simon Sinek, autor referência em liderança com propósito, resume isso com precisão:

“Quando as pessoas estão financeiramente envolvidas, querem um retorno. Quando estão emocionalmente envolvidas, querem contribuir.”

Essa é a diferença entre manter alguém pelo contracheque ou por convicção.


Talvez a pergunta mais incômoda — e mais necessária — seja esta: Se você fosse seu próprio colaborador, você ficaria?


A permanência raramente é apenas uma questão de salário. Quando alguém vai embora, nem sempre está indo para um lugar melhor. Muitas vezes, está apenas deixando de acreditar no seu.


Então, da próxima vez que alguém repetir: “saiu por R$ 200”, a pergunta mais honesta talvez seja: O que faltou para que R$ 200 não fizessem diferença?


Hoje é Dia do Profissional de Recursos Humanos

Vale deixar um reconhecimento especial para quem, todos os dias, tenta equilibrar métricas e sentimentos, estratégias e escuta, gestão e gente. Que os RHs sigam sendo a ponte entre os números e os nomes — e ajudem a transformar “retenção” em relação.

 
 
 

Comentários


bottom of page